segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Blogues assumem a contra-infromação no Brasil

323 jornalistas e comunicadores se juntaram para discutir o poder e o alcance dos blogues e debater a comunicação – de maneira geral – em São Paulo (SP), durante o 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. O encontro ocorrido entre os dias 20 e 22 de agosto aproximou uma rede em expansão na internet de blogueiros conhecidos por fazerem o contraponto jornalístico dos fatos e opiniões da grande mídia.
Os jornalistas se classificam como independentes e ativistas dos movimentos sociais. O uso do blog foi a maneira que encontraram para driblar o bloqueio midiático a determinados assuntos e combater a concentração dos veículos de comunicação no Brasil.
Radioagência NP conversou sobre o Encontro de Blogueiros com um dos organizadores do evento, o jornalista Rodrigo Vianna. Rodrigo também é diretor de Comunicação do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, que articulou o fórum. Acompanhe.
Radioagência NP: Rodrigo, a partir do encontro, os blogueiros se dispuseram a fazer reuniões em pelo menos 19 estados brasileiros. Você considera que esse primeiro encontro foi um marco da comunicação social no Brasil?
Rodrigo Vianna: Sim, foi um marco da comunicação no Brasil, inclusive isso acabou entrando até na agenda da campanha eleitoral. Um dos candidatos que está meio nervoso nas últimas semanas chegou a fazer uma declaração desqualificando os blogues. Mas, na verdade, passou um recibo da importância relativa que os blogues já tem no debate em comunicação no Brasil. Em muitas cidades há dezenas de blogueiros que conseguem ser um contraponto à imprensa escrita tradicional, ou seja, a velha imprensa brasileira que é controlada por meia dúzia de famílias. Então é um marco porque ele colocou frente a frente as pessoas que estão fazendo esse contraponto e essa rede dos blogueiros, que já é forte, vai ficar mais forte ainda a partir do Encontro.
RNP: O que seria o Partido da Imprensa Golpista (PIG)?
RV: Olha esse termo PIG, que é um termo bem-humorado para se referir a esse Partido da Imprensa Golpista, surgiu a partir de um discurso de um deputado federal Fernando Ferro (PT/PE). Ele ele estava fazendo justamente a análise da grande imprensa brasileira, no momento específico de 2005 e 2006, e isso criou uma onda que aparentemente queria derrubar o governo federal. E a partir disso o jornalista Paulo Henrique Amorim cunhou esse termo PIG e a gente usa esse termo nos blogues para se referir a essa velha imprensa, que tem tido um papel no mínimo complicado nos últimos anos no Brasil.
RNP: Como a afirmação de Serra sobre os “blogues sujos” foi recebido pelos Blogueiros Progressistas?
RV: Foi tratado na base da galhofa que é como merece ser tratado um candidato se referir dessa maneira aos blogues, ele que tem uma relação tão próxima com a velha imprensa. Ele na verdade fez o porta-voz da velha imprensa. A gente já não sabe mais se a imprensa que é porta-voz desse candidato ou se ele é porta-voz da velha imprensa. Então foi tratado assim na base da galhofa porque não dá pra levar a sério um negócio desse. 
RNP: O Blog Cloaca News vai pedir explicações de Serra na Justiça sobre o que seria "os blogues", é isso?
RV: É, vai pedir que ele nomeie, pois ele fez uma referência genérica. Aí o Cloaca News - que é um blog que mistura investigação com bom humor - disse que vai interpelar o Serra judicialmente, para que o candidato diga quem são esses blogues que ele considera “blogues sujos”. E o Paulo Henrique Amorim, durante o Encontro de Blogueiros, propôs que a gente desse um prêmio ao Serra de twittero cascão por disseminar sujeiras em certos momentos pela rede de computadores.
RNP: Como você avalia o papel dos blogues nesta eleição?
RV: Aquilo que a gente faz é um contraponto, eles já não falam sozinhos. De 2005 para cá, os jornais e as revistas - que eu chamo de velha imprensa - caminharam de um lado só. Todos passaram a fazer oposição ao governo federal. Não que o governo não mereça críticas, há muitos temas em que a crítica deve ser feita e quando há corrupção o jornalista tem que mostrar, mas foi uma coisa unilateral. A tal ponto que a presidenta da Associação Nacional dos Jornais (ANJ),  Judith Brito, que é também diretora da Folha de S. Paulo, disse que dada a fragilidade da oposição partidária a imprensa passava a fazer o papel de oposição. Eles dizem que são isentos, mas não existe essa história de isenção completa na imprensa. Eu acho que a pessoa pode ter um lado, mas deve se prender a verdade factual. Por isso que os blogues crescem tanto, por culpa também do péssimo serviço de informação que a velha imprensa brasileira faz em nosso país.
RNP: Durante o encontro vocês também deixaram claro o apoio à Ação Direta de Inscontitucionalidade (Adin), que o jurista Fábio Conder Komparato entrou no Supremo Tribunal Federal. Essa ADIN é para regulamentar artigos da Constituição sobre comunicação?
RV: O professor Fábio Conder Komparato vai ingressar, ele ainda não ingressou. Ele vai ingressar em nome de entidades na área de comunicação, com apoio de centrais sindicais e sindicatos e dos blogueiros do Encontro Nacional dos Blogueiros. É uma ação pedindo que o Estado faça cumprir o que está na Constituição. Há vários artigos da área de comunicação que não são cumpridos, por exemplo, o que diz que não pode existir oligopólio e propriedade cruzada dos meios de comunicação. [Hoje] uma única família é dona do rádio, da televisão, do jornal, da internet, da TV a cabo. Não dá. É muito poder concentrado e a Constituição veda isso. Mas o Brasil não coloca isso em prática por causa do poder dessas famílias. Então o Brasil tem que questionar o poder dessa meia dúzia de famílias que ainda mandam na comunicação brasileira.
25/08/10

terça-feira, 15 de junho de 2010

Seminário da Aecpars e os rumos do Carnaval

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Diretoria da Liesa foi a atração principal do Seminário da AecparsFoto: Vinícius Reis/Agência Foco News
Vinícius Reis/Agência Foco News
Carnaval na teoria, não na prática. Assim foi a manhã e a tarde do último sábado na quadra do Império da Zona Norte, que sediou o primeiro Seminário realizado fora do Rio de Janeiro a receber um presidente da Liesa.
Mas o Carnaval! Novos Rumos, promovido pela Aecpars, teve um público apenas razoável, formado em sua maioria por integrantes de escolas do interior do Estado e até de Florianópolis. Nem a presença da cúpula do Carnaval Carioca conseguiu preencher todos os lugares disponíveis.
Dos presidentes e diretores de Carnaval, apenas alguns permaneceram na quadra durante todas as palestras. Outros, deram apenas uma passada no local. Um deles nem apareceu. Dos destaques responsáveis diretamente por quesito, um intérprete, um ou outro mestre-sala e alguma porta-bandeira participaram. Mestre de bateria? Só Márcio Rodrigues. E ficou por aí.
A ausência de dirigentes e principalmente dos destaques não pode ser justificada pela estrutura oferecida pela Aecpars. Antes das palestras, todos receberam credencial e, depois, cada um levou para casa um belo certificado de participação, assinado inclusive pelo presidente da Liesa.
► Organização e Estrutura
O público que participou do Seminário Carnaval! Novos Rumos, da Aecpars
A quadra do Império ainda foi remodelada para o evento, com montagem de palco, instalação de sistema de som de qualidade, telão e tv's de plasma, para que de qualquer área da quadra as palestras pudessem ser acompanhadas. Almoço e coffebreak também foram oferecidos.
A explicação para o público apenas razoável é meramente cultural, ou talvez culpa do Dia dos Namorados. Parece que em Porto Alegre os amantes do samba não gostam de falar sério sobre Carnaval. Até os que estavam presentes foram apenas para ouvir, já que nenhuma pergunta foi feita aos palestrantes quando a possibilidade de interação foi oferecida ao público.
► Projetos do poder público
O secretário da Cultura, Sérgius Gonzaga, representou a prefeitura de Porto Alegre
Os governos municipal e federal estavam representados. O secretário municipal da Cultura, Sérgius Gonzaga e a representante do Ministério da Cultura, Margarete Moraes, abriram os trabalhos. Em pauta, a necessidade da criação de leis estudais e federais específicas para o Carnaval.
Eles foram precedidos pelo presidente da Aecpars, o Urso, que em seu discurso de abertura ficou emocionado ao lembrar de Betinho, ex-presidente dos Imperadores do Samba, falecido em 2002. Urso contou que Betinho sempre declarava que as escolas de samba de Porto Alegre só seriam respeitadas no dia em que trouxessem o alto escalão do Carnaval Carioca.
► Carnaval na TV, Rádio, Jornal e internet
Alice Urbim, gerente de produção da RBS TV, mostrou os índices de audiência do Carnaval
Depois, foi a vez do Grupo RBS prestar contas aos carnavalescos. Parceira da Aecpars até 2016, a RBS foi representado por Alice Urbim, gerente de produção da RBS TV e Alexandre Bach, diretor executivo de produto - segmento da maioria.
Alguns dados relevantes foram revelados, como os excelentes índices de audiência das transmissões, superiores às transmissões do Carnaval Carioca, além do volume de informações que circulou nos jornais e rádios no pré-Carnaval, além do trabalho realizado aqui pelo Samblog, com alcance de excelentes números de acesso.
Alice e Bach ainda afirmaram que o Carnaval é a maior cobertura na área de entretenimento da RBS e que a empresa não faz parceria com gente ou produto que não valha a pena, já que tem compromisso com cinco milhões de espectadores no Estado.
► Liesa mostra sua estrutura
Para encerrar, a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro realizou sua palestra. A dinâmica foi diferente do anunciado, em que cada um dos diretores da Liga falaria separadamente sobre o seu setor de atuação. Na prática, o presidente Jorge Castanheira conduziu a apresentação, com participação do outros dirigentes da entidade carioca.
Com material multimídia, Castanheira falou sobre a estrutura organizacional do Carnaval Carioca, destacando a importância do regulamento e da profissionalização da gestão nas escolas de samba. Ainda mostrou a infra-estrutura montada na Sapucaí para que o maior espetáculo da terra flua com sucesso.
Jorge Castanheira destacou a importância do Regulamento para as escolas de samba do Rio de Janeiro
A comitiva carioca foi acompanhada pelo português Luiz Dias, diretor-presidente da Mectubo, empresa que há mais de 20 anos faz a montagem da estrutura móvel da Sapucaí. O que pouca gente sabia e foi revelado durante o encontro foi que, mesmo com o sambódromo construído, 44% das instalações são tubulares, como cabines de imprensa, passarelas e camarotes.
Coordenador de vendas da Liesa, o gaúcho Heron Schneider mostrou o sistema telefônico adotado para a venda dos 180 mil ingressos para todo o Brasil. Ele revelou que a procura é cinco vezes maior que a oferta e que, em 2010, todas as entradas de arquibancadas se esgotaram em apenas 33 minutos. Heron ainda revelou que o desfile das escolas de samba é o único evento no Brasil em que a organização possuiu os dados de CPF e RG de todos os espectadores.
Sobre administração da escola de samba, falou Elmo José dos Santos, diretor de Carnaval da Liesa e ex-presidente da Mangueira. Para Elmo, uma palavra resume a fórmula do sucesso na gestão de ume entidade carnavalesca: planejamento. Para Elmo, só é possível êxito no dia do desfile com organização e integração entre todos os setores da escola.
No final, bastante solícito, Castanheira posou para fotos e assinou um a um os certificados de participação. Dali, os dirigentes da Liesa jantaram em uma galeteria e logo partiram para o Barracão do Samba e do Carnaval, onde acompanharam a abertura de temporada 2010 do espaço.
Postado por Vinicius Brito às 03h22

sábado, 29 de maio de 2010

EQUIPE RDC PARTICIPA DO "SUPERAÇÃO" NO JULINHO

Os repórteres da RDC Brasil estiveram no sábado, dia 29/05/2010, no Colégio Júlio de Castilhos em Porto Alegre, onde aconteceu um evento ligado ao Projeto Superação, promovido pela direção da escola e pelo Unibanco.
Participaram do evento funcionários, professores, alunos, pais, convidados e membros das equipes do Senac e Unibanco. Houve atividades de recreação, confraternização, oficinas, exposições e corte de cabelo grátis. A equipe da RDC Brasil entrevistou diversos participantes, entre eles a diretora da escola, professora Leda de Oliveira Gloeden e o presidente da Fundação de Apoio ao Colégio Júlio de Castilhos.


quinta-feira, 13 de maio de 2010

COLUNA DA JUSSEMARA



SOCIEDADE OU DOMÍNIO DA ALIENAÇÃO?


Estridentes e inúmeros discursos não faltam neste país julgando a precariedade das relações sociais, a exploração no trabalho, as mazelas humanas – indignamente abandonadas na espera do amanhã indiferente do hoje. Ações? Raras e excessivamente divulgadas. Ajudar o outro – uma atitude indescritivelmente bela e tão comum em tempos passados tornou-se, atualmente, um programa de marketing e, por conseguinte, meio de proporcionar admiração e louvores eternos àquela criatura “tão solidária”.
No Brasil, segundo a Organização Mundial da Infância, três a cada cinco crianças trabalham. “É mais um descaso pela vida inocente de crianças usadas como combustível na produção do mercado mundial.” (BOFF, Leonardo). O velho e ignóbil capitalismo moldou e ainda aliena diversas pessoas, conduzindo-as ao consumismo desenfreado, marquista e preconceituoso. Aos poucos, o cuidado com a dimensão espiritual, mental e familiar vão sendo abandonados, inclusive, com certa expressão de pudor. O materialismo bradou mais alto e é o que há de mais sólido na cabeça de milhões de pessoas. 
Frente aos desmazelos e às tentativas de alguns, em melhorar o estado deplorável da sociedade, tanto condenam abertamente, ignorando a importância destas ações que salvam, permitem melhor qualidade de vida e oferecem oportunidades a quem não tem condições sequer de ter esperanças. Somadas, as bolsas e auxílios dos programas governamentais, dirigidas à população carente, mesmo sem a devida fiscalização, compõem apenas 1% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Enquanto isso, 43% do PIB escorre, com pouquíssimas críticas, ao sistema financeiro internacional (detalhe: o sistema financeiro, como capital especulativo, não produz e não gera nada, apenas troca moedas e lucra, inflando os bolsos daqueles que simultaneamente exploram e riem com muito sarcasmo dos que trabalham arduamente.)
É fácil criticar as pessoas que sofrem com os desmoronamentos, por morarem em locais impróprios, em morros cujo solo é extremamente instável, na periferia... No entanto, por que as favelas não ocorrem nos centro das cidades, onde o solo é mais seguro? Ah! Não é qualquer indivíduo ter prata suficiente pra adquirir 1m² no bairro do centro e então armar sua barraca em cima. Refugia-se, então, onde ninguém mais habitaria devido à ameaça de risco iminente. Inevitavelmente, um contingente humano se aglomera na busca de um espaço para se proteger dentro de suas lonas, no entanto, não há qualquer indivíduo de pompa neste lugar, visto que temem morrer num deslizamento e rechaçam a convivência tão próxima...

É freqüente o menosprezo ao assistencialismo dos governos, principalmente quando não se necessita desse amparo. Mais severa ainda, é a sentenciação dos militantes dos movimentos sociais, alcunhados de baderneiros. Pra ter essa repugnante opinião, que denigre os movimentos sociais, basta consentir com a mídia conservadora e não questioná-la, apenas transmitir as informações tal como foram divulgadas.
Mas por que ocupar terras alheias? Comenta-se apenas o fato e não as condições que culminaram no mesmo acontecimento. A quem pertencem estas terras? Alguma coisa está sendo produzida nelas? Se for cultivada, quais produtos e qual o destino dos mesmos?Há respeito em relação à natureza? Quem está na terra é o proprietário legal? O mesmo proprietário cumpre as obrigações que lhes são pertinentes?
Grande parcela das terras ocupadas integra o conjunto de terras devolutas, pertencentes à união, ocupadas em usucapião por alguém que se considera dono, ou ainda, compõem a série de latifúndios brasileiros que mantém a terra desprovida de plantação, no aguardo de um preço compensatório no mercado externo. Sim, mercado externo, pois quando plantam, sob exagerada mecanização, uso de OGM (Organismos Geneticamente Modificados) e agrotóxicos, é para exportar, trazendo lucros exclusivamente ao latifundiário. Não há geração de empregos: usam-se máquinas, destroem a natureza, mediante o uso indiscriminado dos agrotóxicos, e induzem ao desequilíbrio ecológico com os transgênicos. E, apesar disso tudo, os latifundiários têm uma defesa enorme e exaltada por parte dos brasileiros. Enquanto isso, o MST foi o grande contribuinte para o aumento da produtividade brasileira, não somente pela sua produção, e sim por forçar o uso da terra.
Quem planta para abastecer a mesa dos brasileiros é o pequeno agricultor, o sem terra, o camponês... que segundo dados do último senso agropecuário, produz cerca de 70% dos alimentos que chegam as nossas mesas, no entanto, continuam sendo impiedosamente criticados, mesmo vendendo deus produtos por valor irrisório.
Modificar opiniões já consolidadas é um processo trabalhoso e exige também espírito crítico, que procede do constante embate de idéias, fatos e análise criteriosa das ideologias existentes na sociedade. Portanto, antes de tomar qualquer posição, seja ela radical, de direita, de esquerda, ou como alguns preferem, para não se comprometer, “em cima do muro”, é imprescindível pensar nas estratégias e objetivos que estão ocultos nos mais diversos acontecimentos, programas, sejam eles noticiários ou não, livros, e-mails e demais meios de comunicação; e ainda cabe a pergunta: você sabe quanto custam trinta segundos no horário nobre de televisão? Saiba que você, em frente à TV, contribui para elevar essas cifras.

JUSSEMARA SOUZA DA SILVA
Outono de 2010.
RDC WEB BRASIL
 PORTO ALEGRE

COLUNA DA JUSSEMARA


À ESPERA DE ATITUDE – “A GENTE SE VÊ POR AQUI”



É estarrecedora a capacidade que alguns meios de comunicação têm em ridicularizar o sofrimento alheio. Apesar da tristeza de milhares de pessoas, que tiveram seus parentes e amigos mortos pelo desmoronamento da lama e lixo, além de suas casas destruídas, ainda há o desprezo quanto a essa tragédia.
Uma jornalista, do alto de seu posto e indignação, expõe o desafio em chegar até as áreas de risco, e o fez em honra à sublime e admirável missão de veicular as informações aos telespectadores. Relatou o estado crítico da estrada de acesso, a qual comprometeu seu carro por esse cair em um “buraco”( nas palavras da própria), e parar de funcionar, sendo, inclusive, tapado de lama por outro veículo que por ali passou. Conclui, acabados os detalhes, que essa foi a tragédia para ela, ou seja, para seu nada egoísta ser.

Uma atriz criticou os representantes políticos, por não adotarem medidas que evitassem todo o caos. Acusou-os de incitar a população a morar nestes locais impróprios. Também intencionou culpar os fumantes, ao afirmar que as pontas de cigarro são responsáveis por entupir os canais de escoamento de água. Outra atriz, da mesma emissora, expôs sua dramática incomunicabilidade, devido ao corte na emissão de energia elétrica, fato que inviabilizou seu celular sem bateria, deixando-a impaciente.
A diretora de uma novela conseguiu fazer, da gravação de um capítulo, a mais patética epopéia. Descreveu a árdua chegada ao estúdio, em meio à forte chuva e com o alarmante auxílio da polícia – cuja ajuda deveria estar voltada aos desabrigados e não a uma diretora que se dirige ao trabalho -. Tudo isso, claro, para que as cenas fossem ao ar no tempo estipulado. A heróica diretora finalizou dizendo que, em razão do sufoco e correria pelos quais passou, também sofreu a tragédia de Niterói...
O apresentador do programa, com os olhos quase fora de órbita , para realçar o poder da fala que se arquitetava, pronuncia-se com colérico fervor ante o número de mortos e desabrigados. Em seguida, questiona as atrizes referidas anteriormente, qual ritmo musical elas preferiam dançar... Seria possível sensibilizar-se com as aquelas pessoas que perderam tudo ou quase tudo e, simultaneamente, pensar em ritmos de dança? Apenas hipocrisia?
Até quando determinados meios de comunicação conseguirão subjugar a tristeza, o sofrimento e a dor de perder a família, os amigos, e tudo que milhares de pessoas construíram? Enquanto esse contingente populacional mergulha na amargura da abominável catástrofe, alguns lunáticos reduzem o mesmo acontecimento aos pequenos e insignificantes dramas pessoais, como “sobreviver” dois dias sem energia elétrica, sem bateria no celular, lutar contra a chuva que ameaça a chegada à gravadora, perceber que o carro parou de funcionar porque caiu na poça, enfim, engrandecendo as passagens, ao extremo de parecer que moravam no morro que desabou.
 As pessoas são incentivadas a morar nestes locais? Não, elas são obrigadas, não há outro lugar onde suas condições econômicas permitam habitar. E ainda precisam tolerar as constantes acusações de ignorância e teimosia, por permanecerem em habitações condenadas pelo risco iminente. No entanto, não há um terreno seguro que possam comprar, então vão continuar morando neste morro ou em qualquer outra periferia. Aliás, é presumível que, no arriscado morro, não se encontre qualquer alguém com boas condições econômicas.
O detestável hábito de livrar-se da responsabilidade, empurrando-a para os governantes, assinala, novamente, o descaso de tantos brasileiros com seus conterrâneos, esperando que as atitudes e soluções venham de cima. Como havia um lixão enterrado, por cúmulo, justamente no morro? Lixo que foi produzido por toda a cidade – e não apenas pelos fumantes – a qual quis livrar-se dos próprios resíduos em um local distante do belo centro, apesar de haver moradores no mesmo endereço destinado ao lixão.
Na são as atitudes de um governante que modificarão a situação das famílias que residem em áreas inóspitas. Imprescindível, é que a toda a sociedade tenha consciência e responsabilidade, não obstante, enquanto o interesse capitalista se sobrepor à dignidade de vida e à preocupação com o outro, não haverá mudança. A falta será sempre do governante, que produziu sozinho todo o lixo da cidade, que enviou as pessoas para povoarem o morro de solo instável... E alguns veículos de comunicação e alienação farão, também, somente o seu lamento ridículo, esperando uma atitude e declamando ao final: “A gente se vê por aqui!”.

JUSSEMARA SOUZA DA SILVA
RDC WEB BRASIL
PORTO ALEGRE

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010